Como uma onda no mar... O declínio dos moveres
Hermes C. Fernandes
De alguns anos para cá, fala-se muito de “moveres” supostamente protagonizados pelo Espírito Santo com o objetivo de despertar a fé dos crentes. Já vivenciei alguns deles, ainda que não tenha me envolvido diretamente.
Antigamente, falava-se de avivamento, e isso mantinha nos crentes certa expectativa sobre a intervenção soberana de Deus na história. Países como o de Gales foram cenários desses despertamentos espirituais, que resultaram em conversões em massa e transformações sociais profundas. Diz-se que graças ao avivamento metodista, a Inglaterra não teria mergulhado numa revolução sangrenta semelhante à vivida pela França na mesma época.
Agora a moda é falar de “moveres”. Segundo seus defensores, seriam “ondas” geradas pelo Espírito, visando o crescimento da igreja.
Tal expectativa nos remete à crença nutrida pelos judeus contemporâneos de Jesus de que um anjo vinha de tempo em tempo agitar as águas de um tanque chamado Betesda. Multidões se reuniam ao redor dele em busca de curas milagrosas. Bastava que as águas fossem agitadas.
Tenho a impressão de que alguns pregadores postulam o lugar de tal anjo. Querem reproduzir artificialmente um “mover” que resulte nos mesmos frutos daquilo que originalmente fora provocado pelo próprio Deus.
Pelo menos já não se atrevem a apelidar tais movimentos de “avivamento”. Embora a nomenclatura seja outra, a expectativa é a mesma. Mas agora, em vez de esperarem por um anjo, esperam por uma campanha, por um encontro face a face com Deus, por uma nova estratégia evangelística, por um modelo eclesiástico adotado por alguma megaigreja, ou mesmo uma revelação inédita.
Lembro-me de ter lido no livro “Igreja com Propósitos” de Rick Warren que os pregadores deveriam ser como surfistas à espera de ondas. Segundo ele, não nos compete produzir as ondas, mas simplesmente surfar sobre elas. Embora seu posicionamento pareça mais razoável do que aqueles que defendem os “moveres” produzidos artificialmente, atrevo-me a discordar dele.
Toda “onda” tem um começo discreto, um ápice fugaz, e um desfecho fatídico. Quem decide estar onde elas começam, aproveita melhor o momento, participando do seu surgimento, desfrutando do seu apogeu, e acabando na sua quebrada na areia. Porém, a maioria entra na onda quando esta está no auge, sem darem-se conta de que quanto mais alta ela estiver, mais próxima estará de quebrar.
Assisti in loco à emergência e ocaso de muitos movimentos. Poderia citar alguns deles aqui, mas não quero ferir os escrúpulos de ninguém. É sempre a mesma estória... Um vai-e-vem que se repete exaustivamente. Para os pregadores surfistas, o importante é aderir à moda, isto é, àquilo que dá certo, que atrai multidões, e, por conseguinte, os recursos para a manutenção da máquina eclesiástica.
O problema é que, semelhante aos moribundos do tanque de Betesda, ficamos com nossas atenções tão voltadas para o tal “mover das águas”, que não percebemos a presença de Cristo entre nós.
Que tal se avançarmos um pouco mais na direção do oceano, para além de onde as ondas começam? Não foi lá que Jesus ordenou que Pedro lançasse suas redes?
Saiamos das águas rasas e da espiritualidade superficial proporcionada por tais moveres, e avancemos na direção do que é permanente, constante, eterno.
No dizer de Paulo, deixemos as coisas de meninos, dentre as quais a inconstância típica da adolescência, e sigamos a verdade em amor, a fim de que alcancemos um crescimento não apenas numérico, mas, sobretudo, qualitativo.
Hermes Fernandes colabora com o Genizah
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