Julio Zamparetti Fernandes
“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mateus 5:10-12).
INFELIZES OS PERSEGUIDOS
A princípio cabe-nos entender que as perseguições não nos fazem bem-aventurados, mas bem-aventurados somos quando as bem-aventuranças são a razão de sermos perseguidos. Portanto, não é qualquer perseguição que denota nossa bem-aventurança. Muitas perseguições denotam apenas nosso infeliz proceder. Não é feliz quem é perseguido por praticar injustiças. Não é bem-aventurado quem é perseguido por amar conchavos políticos. Não é alegre de espírito quem é perseguido por causa de má conduta, nem tem do que se gloriar quem é perseguido por não respeitar as diferenças.
FELIZES OS PERSEGUIDOS
Felizes quando somos perseguidos por não agir por conveniência. Num mundo de tanto jogo de interesses, os princípios da honestidade e caráter têm sido subjugados e renegados a segundo, terceiro, último, ou mesmo fora de plano por aqueles que acham que o importante é se dar bem, julgando por certo o que lhe seja conveniente. Quem assim procede pode até pensar que é feliz, mas como pode ser feliz quem nem sequer é alguma coisa? Quem age por conveniência não tem caráter, não tem opinião própria, não é nada além de uma folha seca ao vento, não passa de um infeliz. Quanto aos que se expõem, se impõem e se põem contra as injustiças praticadas pelos poderosos, serão perseguidos, atribulados, atormentados, mas serão felizes, pois não passarão pela vida sem que nela tenham feito diferença deixando a sua contribuição e legado.
Felizes quando somos perseguidos por não trairmos a consciência. Quem trai sua consciência, trai a Deus duas vezes, pois trai a consciência que por Deus lhe foi dada, e trai a Deus que lhe fez consciente. Deus não nos impõe idéias, nem nos obriga a nada. Ele nos atrai ao seu convívio, nos ensina seu caminho e, se houvermos aprendido, o seguiremos por convicção.
Felizes quando somos perseguidos por lutar por igualdade e justiça social. Cristo humilhou a si mesmo, viveu entre os excluídos, identificou-se com eles, morreu como bandido, fez-se igual ao mais sofrido. Por que haveríamos de nos achar superiores? Somos todos iguais, diferidos tão somente pelas circunstâncias, que se fossem inversas seríamos nós no lugar daqueles a quem excluímos. Por mais sofrido que seja o nosso semelhante, ainda é semelhante a nós.
Felizes quando somos perseguidos por defender os mais fracos. Defender o semelhante mais fraco é defender a nós mesmos que somos todos semelhantemente fracos. Ninguém vive numa ilha para pensar que o problema do fraco não é seu problema. Quando se vive em sociedade, a fraqueza de qualquer cidadão é uma fraqueza social, e uma fraqueza social é uma fraqueza de todo cidadão. Portanto, defender os mais fracos é fortalecer a sociedade e beneficiar a todo cidadão. Feliz quem entende isso e por isso trabalha. É bem-aventurado, ainda que sua bem-aventurança gere o descontentamento e desencadeie a perseguição daqueles que enriquecem às custas da exploração dos mais fracos.
INFELIZES OS NÃO PERSEGUIDOS
Infeliz daquele que não é perseguido pela própria consciência ao explorar a fé dos indoutos condicionando a ação de Deus aos lenços, toalhinhas, fitinhas, castiçais, sais ungidos e ofertas de sacrifício.
Infeliz daquele que não é perseguido pela própria consciência ao explorar o empregado, não ajudar o pobre, não se compadecer do sofredor.
Infeliz daquele que não é perseguido pela própria consciência ao buscar lucros ilícitos, tirar vantagens sobre o sofrimento alheio e se promover na desgraça dos outros.
Infelizes somos nós quando nossa consciência se cauteriza de forma a não sentirmos mais a dor da mazela humana, nem sofrermos com quem sofre.
Blog de Julio Zamparetti Fernandes divulgação Genizah
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